Empregada afirmou que dormia em um quarto sem luz e que usava o passar dos dias para medir o tempo.
Uma empregada doméstica foi resgatada no bairro da Abolição, na Zona Norte do Rio de Janeiro, após passar 41 anos em condições análogas à escravidão, sem receber salários e férias. A situação foi revelada pelo portal G1 com base em um depoimento concedida pela mulher na 1ª Procuradoria Geral do Trabalho.
Segundo a empregada, após trabalhar cerca de 11 horas por dia, com pouco tempo para as refeições, ela dormia em um quarto sem energia elétrica nos fundos da casa. Sem luz e relógio, ela afirma que calculava a passagem de tempo conforme o dia ia escurecendo.
No depoimento, ela também relatou que uma médica da família para a qual ela trabalhava diagnosticou que ela estava com Covid-19, e receitou remédios. Apesar da empregadora ter comprado os medicamentos, a empregada relatou que nunca fez outros exames e disse que nunca tomou os remédios.
Os auditores fiscais do trabalho que viram a vítima pela primeira vez disseram que ela estava suja depois de voltar do ferro velho, onde fora vender as latinhas que catava para conseguir alguma remuneração. Às 11h, ela ainda não tinha se alimentado e estava, segundo os auditores e promotores do Ministério Público do Trabalho, muito agitada, confusa e com problemas de audição.
A mulher, de 63 anos, contou em depoimento que às vezes recebia R$ 6 ou R$ 7 de sua empregadora, e que usava em alguns momentos o dinheiro para comprar sabonete para tomar banho. O vínculo empregatício da vítima nunca foi registrado na sua carteira de trabalho. Durante os 41 anos, a mulher afirma também que nunca teve contato com sua família de origem, em São Paulo.
Após o resgate, a mulher está sendo atendida pelo programa de assistência social do Caritas em parceria com o Ministério Público do Trabalho. Sua empregadora tem uma semana para pagar a sua rescisão salarial, assim como os vencimentos referentes aos anos de trabalho. Os valores são de mais de R$ 100 mil.
Paulo Moura
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